As reformas trabalhista e previdenciária caminham para incendiar o País em movimentos sindicais com ampla adesão da sociedade e vão fermentando um clima de ódio contra o Governo Federal e os parlamentares federais. Se os defensores destas propostas não consultarem o seu termômetro que mede a insatisfação da sociedade brasileira, poderemos assistir novamente as cenas de violência urbana e severas ameaças contra os poderes da República, como aconteceu um ano antes da Copa, quando explodiram manifestações generalizadas, inicialmente contrárias ao aumento de passagens, mas que evoluíram em ataques aos políticos.
A defesa das reformas através dos meios de comunicação de massa, sobretudo na TV, são insuficientes para contrapor o trabalho mobilizador das centrais e sindicatos e de várias sociedades organizadas, com presença extraordinária nas mídias sociais, contestando os argumentos globais com uma realidade muito simples: a carência de empregos formais, bolsos vazios e empobrecimento familiar, além da eliminação de perspectiva de melhoria provocada pela precarização ou erradicação de direitos.
As ruas estão tomadas de informações que contestam o déficit previdenciário, com denúncias de dívidas bilionárias de grandes empresas com o INSS, de privilégios previdenciários de políticos e militares, sedimentando no consciente coletivo uma certeza de “traição”, de golpes, de indignação.
Não há como o movimento sindical defender propostas que implodem os direitos trabalhistas consagrados na Consolidação das Leis do Trabalho, representando qualquer iniciativa neste sentido em retrocesso em conquistas que demandaram mobilizações históricas para serem alcançadas. Muito menos admite-se dizer ao trabalhador que toda a sua contribuição ao INSS foi a “fundo perdido” e que foi cassado o seu direito de se aposentar, principalmente diante do profundo desemprego, de tantas iniciativas empresariais para aderirem a planos de desligamentos voluntários, de uma perspectiva sombria para cuidar da velhice sem emprego e sem aposentadoria.
O que se faz hoje no País para salvar uma massa de desempregados? Querem que aqueles que ainda têm emprego trabalhem até os 65 anos e só abram vagas apenas depois de contribuírem 49 anos para a Previdência? Seremos uma multidão de velhos morrendo no trabalho e uma geração de novos desesperados sem onde buscar emprego, restando a alternativa da informalidade e da adaptação à violência social para sobreviverem. O caos completo vem com as mudanças na legislação trabalhista, dinamitando todos os direitos conquistados, eliminando “encargos sociais” para gerar lucros para as empresas, ampliando a desigualdade.
Precisamos da compreensão política do clima propício a uma convulsão social construída com a retirada de direitos dos trabalhadores, desaquecendo o consumo e consequentemente a produção, numa roda que atinge a arrecadação de impostos em uma atividade econômica longe de sair da estagnação.
Rogério Fernandes – presidente da Feessemg